Quarta-feira - 30/10/2013
Arqueólogos usam robôs para mapear labirintos no subsolo de Roma

Equipados com telêmetros a laser, GPS e robôs por controle remoto, um grupo de especialistas está concluindo o primeiro mapeamento dos aquedutos da Roma Antiga, que consideram ser a “última fronteira” da arqueologia.

Amarrados a cordas, eles desceram por poços de acesso e escalaram fendas para acessar os 11 aquedutos que abasteciam Roma, um labirinto que ainda corre por centenas de quilômetros no subsolo e ao longo de viadutos impressionantes.

A missão destes espeleo-arqueólogos é atualizar o mais recente mapa superficial da rede, compilado no começo do século 20 pelo arqueólogo britânico Thomas Ashby.

Enquanto atravessava um trecho do túnel perfeitamente preservado do Acqua Claudia, no terreno de um convento franciscano em Vicovaro, perto de Roma, Alfonso Diaz Boj disse se sentir “orgulhoso” do estudo. “Ele combina o que foi o nascimento da arqueologia como ciência com os mais recentes instrumentos disponíveis”, prosseguiu Diaz Boj, que faz parte do grupo Sotterranei di Roma (Subterrâneos de Roma), usando capacete com lanterna.

Marcas de picareta dos escavadores romanos ainda podem ser vistas no calcário do túnel concluído em 38 d.C, sob o domínio do imperador Cláudio e uma camada de calcificação a cerca de um metro do chão mostra aonde o nível da água pode ter chegado.

“Estes aquedutos podem não ser tão bonitos quanto uma estátua ou algumas obras de arquitetura, mas creio que são muito importantes, são muito belos”, afirmou.

Os antigos canais eram verdadeiras proezas de engenharia, dependendo unicamente da gravidade para assegurar o fluxo d’água, e podem ser vistos por todo o antigo Império Romano, que se estendeu da Alemanha ao norte da África.

Sua importância estratégica é reforçada pelo fato de que Roma tinha um magistrado especial para supervisionar sua manutenção e que os visigodos os interromperam quando montaram o cerco à cidade.

O Acqua Claudia se estende por 87 quilômetros, das Montanhas Simbruini ao coração de Roma, e fornecia 2.200 litros d’água por segundo.

Apenas um dos aquedutos ainda funciona – o Acqua Vergine – e pode ser acessado em vários locais escondidos perto de Roma, incluindo uma entrada perto da Vila Médici, que leva a uma escadaria em espiral até o nível da água. O Acqua Vergine tem um total de 20 quilômetros de extensão e termina na Fontana de Trevi, fotografada todos os dias por multidões de turistas.

“A Roma subterrânea é a última fronteira”, afirmou Riccardo Paolucci, outro explorador, enquanto examinava um viaduto em um vale perto de Vicovaro, que levava a água para mais longe, na direção da cidade.

“A água era um serviço fundamental para a higiene. Em uma cidade como Roma, que tinha um milhão de habitantes, havia muito poucas epidemias”, afirmou. “Havia um conceito de serviço para o povo, para a cidade. É um conceito-chave que talvez faça falta não apenas na Roma moderna, mas também globalmente”, continuou.

Diaz, Paolucci e os outros do Sotterranei di Roma trabalham em conjunto com a autoridade arqueológica romana, ajudando-a a entender o que pode ser visto na superfície do que está abaixo e inacessível, sem a necessidade de um equipamento especializado.

“Nós somos o que somos por causa do que temos dentro de nós, e Roma é o que é por causa do que está embaixo dela”, afirmou Paolucci, um espeleólogo que também é chamado em incidentes de emergência ou sempre que um buraco de escoamento se abre na cidade.

O grupo também organiza visitas guiadas e cursos, inclusive um sobre aquedutos com início previsto para o próximo mês e que está ganhando fama internacional. Seus integrantes também foram incumbidos de mapear os vestígios subterrâneos da antiga Éfeso, na atual Turquia.

Seu estudo dos aquedutos se baseia em um mapa feito por Ashby, que foi diretor da Escola Britânica de arqueologia em Roma, entre 1906 e 1925.

A assinatura de Ashby pode ser vista na parede de um setor do aqueduto Acqua Marcia, que também passa por Vicovaro, ao lado de grafites e poemas do século XVII, deixados por visitantes que caminharam pelos antigos canais.

“Os mapas de Ashby estavam à frente de seu tempo”, disse Diaz. “Ele buscava os vilarejos, as tratorias locais, falava com fazendeiros, caçadores. Ele descobriu o que descobriu graças ao conhecimento local”, afirmou. “É uma técnica que usamos até hoje”, emendou. (Fonte: Terra)

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